Quando falamos em “storytelling”, muitos pensam logo em marketing, livros ou cinema. Mas e se dissermos que contar histórias pode ser uma das habilidades mais valiosas dentro de projetos de tecnologia?
O que é storytelling, afinal?
Storytelling é a capacidade de transmitir uma ideia ou informação por meio de uma narrativa estruturada — com início, meio e fim. Pode parecer simples, mas histórias ativam partes do cérebro ligadas à emoção e à memória, o que as torna muito mais eficazes para comunicar algo do que apenas apresentar dados ou listas de tarefas.
Não se trata de florear. Trata-se de dar contexto, sentido e clareza.
Por que isso importa para profissionais de tecnologia?
Em projetos de tecnologia, lidamos o tempo todo com assuntos complexos: integrações, bugs difíceis de rastrear, requisitos que mudam, times remotos, sprints corridos. E no meio disso tudo, precisamos explicar decisões, engajar o time, mostrar valor para stakeholders e documentar o que foi feito.
É aí que entra o storytelling.
Storytelling em algumas profissões da área:
Para Desenvolvedores e Engenheiros de Software
Você já teve que explicar por que escolheu uma arquitetura específica? Ou defender uma refatoração que não gerava valor visível imediato? Transformar essa justificativa em uma história com contexto, problema e solução pode fazer toda a diferença.
Além disso, contar histórias é útil ao passar conhecimento técnico: ao invés de ensinar só o como, você compartilha o porquê, o erro que você evitou e o raciocínio por trás da escolha.
Para Product Owners e Product Managers
Storytelling é ferramenta central para esses papéis. Explicar a visão de produto, descrever uma persona, apresentar um roadmap… tudo isso ganha força quando vem acompanhado de uma história que ilustra o problema do usuário e como o produto transforma essa realidade.
Boas histórias facilitam o alinhamento entre negócio, tech e design. E ainda ajudam os stakeholders a se conectarem emocionalmente com o produto.
Para Scrum Masters e Gerentes de Projeto
Já tentou engajar o time com apenas um gráfico de burndown? Funciona melhor quando você também traz a narrativa do projeto: os desafios que foram superados, os riscos vencidos, as conquistas da sprint.
Além disso, narrativas ajudam a lidar com conflitos, incertezas e mudanças de escopo, todos elementos que fazem parte da realidade de projetos ágeis.
Para Designers, UX e Narrative Designers
Aqui o storytelling é ainda mais visível: criar fluxos, jornadas, diálogos e experiências que contem uma história clara para o usuário é parte do dia a dia. E essa história precisa ser consistente em todos os pontos de contato do produto.
Exemplos de como aplicar storytelling:
- Use personas reais (ou quase reais): conte a história de um usuário fictício com um problema concreto;
- Transforme dados em narrativas: não apresente só métricas; mostre a evolução, os desafios e o impacto;
- Conte o “porquê”, não só o “o quê”: isso vale para código, reuniões, apresentações e retrospectivas;
- Construa contexto antes da solução: mesmo um bug crítico faz mais sentido quando se entende o cenário.
Diversas fontes falam sobre o nosso cérebro processar histórias até 22 vezes melhor que dados isolados. Daniel Kahneman, um psicólogo e economista notável por seu trabalho sobre a psicologia do julgamento e tomada de decisão, dizia que decisões vêm de narrativas, não de dados.
Em seu livro “Thinking Fast and Slow”, Kahneman argumenta que naturalmente resistimos a novas ideias ou conceitos sem uma história que ressoe e que isso se deve ao nosso desejo por fluência cognitiva, um estado em que nosso sistema intuitivo processa as informações enquanto busca um significado. O autor diz que o cérebro é preguiçoso e gosta de uma história convincente para guiá-lo. Ouvir histórias aciona nossas emoções e nosso cérebro libera substâncias químicas que nos ajudam a lembrar o que ouvimos e entender a essência de uma ideia com agilidade.
Em um cenário dominado por dados e análises, pode parecer estranho falar em contar histórias. No entanto, diversas fontes apontam que o storytelling vai muito além de uma técnica de comunicação: ele é um diferencial estratégico para a liderança. Ao usar narrativas, líderes conseguem estimular a colaboração, fortalecer a empatia e fomentar a criatividade. Saber aplicar o storytelling no dia a dia é uma habilidade crucial para quem precisa lidar com equipes complexas, tomar decisões relevantes e gerar resultados significativos.
Em tecnologia, comunicar bem é tão importante quanto codar bem. O storytelling não é um “bônus”, é uma habilidade essencial para quem quer liderar, ensinar, influenciar e construir algo que faça sentido para o usuário e para o time.
Da próxima vez que for explicar uma decisão técnica ou defender uma ideia, pense: qual história você está contando?