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UMA REFLEXÃO SOBRE OS JULGAMENTOS E DESAFIOS DE SER MÃE NO MERCADO DE TRABALHO

Elizabeth Vasconcelos
Sócia-Diretora/ Managing Director

Ser mãe e estar no mercado de trabalho é uma realidade comum a muitas mulheres, inclusive algumas sustentam sozinhas uma família inteira. No entanto, essa jornada é repleta de desafios e reflexões, especialmente quando se trata do olhar do mundo e dos julgamentos que nós mulheres enfrentamos. 

Neste artigo, quero explorar os diferentes aspectos dessa experiência, desde a pressão enfrentada pelas mães que decidem pausar ou abandonar suas carreiras para cuidar dos filhos – a maternidade como um projeto de vida para algumas mulheres – tanto quanto suas profissões, os desafios enfrentados ao optar por equilibrar carreira e maternidade e uma reflexão sobre como as empresas lidam com a maternidade. 

Uma das grandes questões que as mulheres enfrentam ao se tornarem mães, é o julgamento implícito da sociedade em relação à decisão de pausar ou abandonar a carreira profissional, ou conciliar as duas tarefas. 

Se uma mulher decide ser mãe 100% do tempo, cuidar da casa e família ao invés de atuar no mercado de trabalho, há uma tendência da sociedade de rotulá-la como se ela não tivesse uma “ocupação”, um “trabalho”, com prazos e prioridades para serem cumpridos, porque o trabalho doméstico, a dedicação em criar e educar seres humanos, não é colocada no mesmo patamar do trabalho corporativo. 

Agora, já parou para pensar em quantos seres humanos melhores essas mães formaram para o mundo por poderem estar sempre presentes? Ou no quanto essa família economizou com profissionais para realizar as tarefas que ela realiza? O papel de mãe engloba serviços como os de uma babá, uma cozinheira, uma lavadeira/passadeira, uma diarista, uma professora, e algumas outras como motorista, para as idas e vindas ao balé, dentista, clube, natação, futebol, sem contar os agendamentos com médicos e as idas ao supermercado. Ou seja, a gestão completa desse lar, está na cabeça dela e normalmente é responsabilidade só dela. 

Mas ainda assim, para mulheres que sempre foram economicamente ativas, abandonar a profissão e se dedicar a isso pode ser receber uma sentença de “acomodada”, “não produtiva”, “fora da realidade econômica”, ou em alguns casos, as pessoas enxergam-nas até com uma certa pena, porque entendem que é um desperdício “uma profissional tão qualificada” abandonar sua carreira para ser mãe! 

Por outro lado, as mulheres que decidem manter suas carreiras e equilibrar os desafios da maternidade muitas vezes são submetidas a uma pressão igualmente intensa por parte da sociedade e do mundo corporativo. Elas são criticadas por não passarem tempo suficiente com seus filhos e são frequentemente questionadas quanto à sua capacidade de conciliar ambos os papéis. 

Mas enquanto entre os amigos e a família ela é julgada por não parar de trabalhar, no trabalho os colegas a julgam porque não entendem as idas constantes ao pediatra, as ausências no primeiro ano de vida da criança e os dias com a cabeça aérea pelas noites mal dormidas. Então, além de todas as mudanças físicas e emocionais que acompanham a maternidade, as mulheres também enfrentam alguns desafios no ambiente de trabalho. Muitas vezes, elas se deparam com a falta de compreensão e apoio por parte de gestores e colegas, enfrentando estereótipos negativos e sendo submetidas a julgamentos. Afinal, ela passou a recusar-se a fazer horas extras, que antes eram aceitas, ou a antecipar sua saída em 15 minutos para chegar a tempo na creche e esses pontos passam a ser vistos com maus olhos. Os próprios colegas, que talvez até já tenham aprendido algo da profissão com essa mulher, acabam depreciando a profissional como se ela não fosse mais merecedora do cargo que ocupa. Então, essa pressão para provar constantemente sua capacidade e dedicação pode ser exaustiva, causando estresse adicional para as mães que já estão equilibrando múltiplos papéis. Esse peso adicional pode criar um ambiente de trabalho hostil, onde as mulheres se sentem constantemente divididas entre suas responsabilidades profissionais e familiares e o que acontece muitas vezes é o desligamento dessa mãe em até um ano do seu retorno da licença. 

A pergunta que fica para reflexão é: o atual mundo corporativo está preparado para ter um outro olhar sobre a maternidade? Será que as empresas cultivam o respeito e acolhimento em relação às mulheres que decidem pela maternidade? 

Infelizmente, ainda existe uma mentalidade arraigada na sociedade de que as mulheres devem dar conta de tudo – qualquer que seja sua escolha, trabalhar e ser mãe conjuntamente ou assumir 100% a maternidade. O não ser exitosa, “bem-sucedida” nessas escolhas é visto como um descuido, uma negligência. 

Eu acredito que ainda há muito a ser feito, mas já vemos mudanças no comportamento de algumas empresas. Aqui na Verx temos como exemplo, o caso de uma colaboradora que estava gestante, prestes a ganhar o bebê e foi merecidamente promovida pouco tempo antes de sua licença maternidade. Tornar-se mãe não afeta a qualidade da sua contribuição para a empresa ou o seu profissionalismo. Mas sabemos que embora muitas empresas tenham políticas de licença-maternidade e benefícios adicionais, nem sempre há um ambiente de trabalho que apoie e compreenda plenamente as necessidades dessas mães. Por isso é essencial o esforço das corporações em criar um ambiente inclusivo e flexível, onde as mulheres possam se sentir apoiadas e valorizadas em todas as fases de suas vidas. 

A maternidade é muito mais do que uma simples decisão de ter filhos. Para muitas mulheres, ela é um projeto de vida cuidadosamente planejado e uma expressão de amor e dedicação. 

É fundamental reconhecer que as mulheres têm o direito de escolher seu próprio caminho e que a maternidade pode ser uma parte significativa e valiosa de suas vidas, assim como suas carreiras. Ao invés de julgar, devemos celebrar a diversidade de escolhas e experiências, a maternidade não deve ser vista como um obstáculo para o sucesso profissional, mas como um aspecto enriquecedor que contribui para o crescimento pessoal e profissional. 

É crucial educar os gestores e colaboradores sobre a importância de uma cultura de respeito e empatia em relação às mulheres que também são mães. É preciso abandonar os estereótipos de gênero e valorizar as habilidades e contribuições únicas que as mulheres trazem para o ambiente de trabalho, independentemente de sua escolha em relação à maternidade. Criar espaços de trabalho inclusivos, onde as pessoas se respeitam e se apoiam, não apenas beneficia as mulheres, mas também promove um ambiente mais saudável e produtivo para todos os funcionários. 

Para a sociedade avançar em direção a um mundo corporativo mais inclusivo, é fundamental respeitar e valorizar as escolhas individuais. Reconhecer a maternidade como um projeto de vida legítimo e promover uma cultura de apoio, flexibilidade e igualdade de oportunidades são passos essenciais. Somente através da conscientização e do compromisso com a mudança poderemos construir um ambiente de trabalho onde as mulheres possam prosperar tanto como profissionais quanto como mães. 

Que todas nós possamos ter espaço para exercer nossa profissão e nossa maternidade da maneira que nos fizer mais sentido, sem julgamentos e preconceitos. 

Feliz Dia das Mães, de uma mãe de três e que também já passou por saias justas no mundo corporativo com a maternidade! 

 

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